Saudades do
meu velho pai...
Sou o tipo de pessoa que não pode dizer: “meu pai era um sujeito todo correto,
fazia tudo metodicamente e sempre com a mesma rotina”. Jamais!
O “Seu Chico”, o qual chamei sempre de “senhor”, era do tipo que vivia um dia
de cada vez. Muitos defeitos, alguns passíveis de correção, mas qualidades
indescritíveis (pelo menos eu entendo assim). Tinha um coração que não cabia no
peito, tanto carinho e fidelidade aos amigos e às pessoas próximas. E era um
trabalhador nato. Levantava cedo (4 da manhã) todos os dias.
Sofreu com um mal que assola muitas famílias, mas jamais deixou faltar para a
gente a orientação, o apontamento para o caminho correto visando evitar erros
que ele cometia. O melhor carpinteiro, o melhor pedreiro... o melhor violeiro
que conheci.
Em conseqüência da vida que teve, o coração parou aos 58 anos, isso em 1998.
Foi a partir desse ano que passei a lembrar de tantas coisas boas dele, ou que
presenciei em suas realizações em prol das pessoas. Embora pese alguns defeitos
se sobressaírem em momentos importantes da minha vida, não consigo imaginar meu
pai pelos erros, mas pelas coisas boas.
No dia 6 de janeiro ele teria completado 73 anos. Exatamente! No dia dos
“Santos Reis”. Talvez por isso tenha se tornado violeiro, e como disse, o
melhor que conheci.
Para mim é um dia muito especial. Lembrar das vezes em que ele chagava em casa
(quando trabalhava na cidade), e o final do dia ganhava um tom diferente. Eu
(que meus irmãos chamavam de puxa-saco) limpava a cuia e passava para ele
preparar o chimarrão, seu costume desde infância. Muitas vezes afinava e
abraçava a viola, intercalava uma cuia de mate com uma música do Tião Carreiro,
Tonico e Tinoco, Lourenço e Lourival ou qualquer outra dupla caipira das boas.
Me fazia sentir próximo do céu! Era o paraíso.
O “Velho Francisco” partiu (penso que muito cedo), mas deixou muitos momentos
bons para minha lembrança. No dia dos “Santos Reis” sinto a presença dele do
início ao final da jornada. É comum, para mim, ouvir muita música caipira nesse
dia, especialmente Pena Branca e Xavantinho, Torrinha e Canhotinho, Palmeira e
Biá e outras duplas que cantam músicas de reis.
Como disse, não posso dizer que meu pai era um sujeito todo correto, mas foi um
sujeito que soube viver, do seu jeito, mas viveu bem. Mesmo no auge dos
problemas causados pelo mal que assola muitas famílias, contava com o carinho e
compreensão da minha mãe. Ela sempre acabava dizendo que a gente (filhos) devia
respeito e obediência ao pai. E ele, sábio educado pela vida, dizia que
santidade não está nos santos que nos apresentam na igreja, mas no ventre que
nos gerou. “Quer orar para Deus de verdade? Respeita, honra e ama a sua mãe.
Ela é a sua santa!”. Essa lição foi a principal de todas.
Sou grato por ter tido, mais uma vez, a oportunidade de assistir a celebração
de “Santos Reis” no domingo, exatamente no dia em que ele comemoraria seu
nascimento. Foi magnífico. Aos violeiros de Serra Alta, Grupo Raiz Sertaneja,
minha gratidão pelo momento lindo.
Aos meus irmãos, peço sempre que lembrem do meu velho pai pelas coisas boas que
nos ensinou e pelo carinho, afeto e amizade com que tratava as pessoas a sua
volta. Ainda posso ouvi-lo tocando e cantando alto na varanda da casa. Valeu
Pai...e que nesse ano eu possa seguir melhor os teus bons conselhos!
Crédito: Luzardo Chaves
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