1 de mai. de 2010

MÁRTIRES DE CHICAGO DÃO ORIGEM AO 1º DE MAIO

A condenação à forca ou à prisão perpétua de oito operários nos Estados Unidos, em 1886, resultou na oficialização do 1º de Maio pela Internacional Socialista em 1899. O primeiro de maio de 1886, um sábado, amanheceu com chuva em Chicago. Logo no começo do dia, as autoridades perceberam que havia algo de estranho no ar. Não apareceu ninguém para acender as fornalhas, ninguém para abrir e fechar as válvulas das caldeiras, ninguém para mover os teares ou para varrer as ruas. A cidade estava parada e tudo corria de acordo com o plano que um pequeno grupo de sindicalistas começou a elaborar um ano e meio antes, em reuniões aos sábados à noite, à beira do lago Michigan. Eles queriam o regime de trabalho de oito horas, que embora já tivesse sido determinado, nunca fora cumprido. Era comum trabalhar 12, 14 ou até 16 horas por dia. A tese das oito horas tinha como aliado o pensamento do reverendo inglês John Peacock, para quem Deus criou o dia com 24 horas com a finalidade de que elas fossem divididas por três, o número da Santíssima Trindade: oito horas para o trabalho, oito para o descanso e oito para as orações. Os sindicalistas pregavam também as idéias de uma revolução anarquista para a sociedade estadunidense. As manifestações seriam pacíficas se não houvesse provocação. O discurso do líder anarquista Samuel Sierlden, às 16 horas de 4 de maio, em Chicago, transcorria com normalidade e a maior parte dos 300 mil manifestantes já estavam voltando para suas casas em Albany, New York, Pittsburgh e Washington, até o aparecimento do capitão Bonfield, chefe da polícia, determinando que ele descesse imediatamente do palanque. Os dois iniciaram uma discussão, que findou com a explosão de uma bomba. Os manifestantes acusaram a polícia, que culpou os anarquistas pela bomba. Ainda hoje permanecem dúvidas acerca da autoria do atentado. O resultado foi um grande corre-corre, 80 manifestantes e 10 policiais mortos, muita gente ferida, muitas prisões. As imagens geradas em Curionópolis, no sul do Pará, apresentam a face brutal da repressão a movimentos reivindicatórios, como o ocorrido há 124 anos em Chicago. Já no dia seguinte começou o “processo da praça do mercado”, que só terminou em 30 de outubro de 1887, com a condenação de oito sindicalistas acusados: cinco condenados à morte (Albert Parsons, Hessois August Spies, Adolph Fisacher, George Engel e Louis Lingg) e três à prisão perpétua, com trabalhos forçados (Michael Schwab, Sanuel Fielden e Oscar Neebe). No dia 8 de novembro seguinte, Parsons, Spies, Fischer e Engel foram enforcados em Chicago. Lingg suicidou-se na prisão e, sete anos mais tarde, os outros obtiveram o perdão oficial. No dia em que as sentenças foram anunciadas, o líder anarquista Spies encarou o juiz e o corpo de jurados e disse em voz firme e com muita emoção: “Que o mundo saiba que em 1886, no Estado de Illinois, cinco homens foram condenados à morte, porque tinham fé na vitória final da liberdade e da justiça. Virá uma época em que nosso silêncio será mais poderoso do que as ordens que dais agora”. Ele não estava mais vivo quando a vitória chegou. No dia 1º de maio de 1890, o Congresso estadunidense promulgou a lei regulamentando a jornada de trabalho em oito horas. Buscando revestir os festejos de 1º de maio com significado religioso e cristão, o Papa Pio XII instituiu a festa de São José Operário, lembrando os trabalhadores, na celebração do seu dia, a dimensão cristã da atuação do ser humano na transformação do ambiente, que deverá proporcionar condições dignas de vida para todos.
As lutas e conquistas do trabalhador brasileiro
A expressão da dor, revolta, alegria e disposição de luta dos trabalhadores brasileiros, no 1º de Maio, tem sua origem ainda no século XIX, com a formação da classe operária. As primeiras manifestações registraram-se em torno dos núcleos operários instalados em São Paulo e Rio de Janeiro. As primitivas formas de organização do operariado foram as Sociedades de Socorro e Auxílio Mútuo, que visavam auxiliar materialmente os operários nos momentos mais difíceis, como nas greves ou em épocas de dificuldades econômicas. A estas associações mutualistas sucederam as Uniões Operárias, que passaram a se organizar por ramos de atividades, dando origem aos sindicatos. Em 1906, realiza-se o 1º Congresso Operário Brasileiro, contando com a participação de 43 delegados, lançando as bases para uma organização sindical de âmbito nacional, a Confederação Operária Brasileira - COB. A COB lutava pelo atendimento das reivindicações básicas do movimento operário, alem de uma intensa campanha de solidariedade aos trabalhadores de outros países. No congresso de fundação da COB, participaram as duas tendências até então existentes no movimento operário: a anarco-sindicalista, que negava a importância da luta política, privilegiando exclusivamente a luta dentro da fábrica através da ação direta. Repudiava a constituição de um partido para a classe operária e via nos sindicatos o modelo de organização para a sociedade anarquista. A outra tendência era composta pelo socialismo reformista, que buscava a transformação gradativa da sociedade capitalista, lutava pela criação de uma organização partidária dos trabalhadores e, a nível do Estado, utilizava-se da luta parlamentar.
Historiador Paulo Vendelino Kons / Assessor Cultural do Instituto Aldo Krieger - IAK

Nenhum comentário:

Postar um comentário