8 de jan. de 2013

SAUDADES DO MEU VELHO PAI


Saudades do meu velho pai...
Sou o tipo de pessoa que não pode dizer: “meu pai era um sujeito todo correto, fazia tudo metodicamente e sempre com a mesma rotina”. Jamais! 
O “Seu Chico”, o qual chamei sempre de “senhor”, era do tipo que vivia um dia de cada vez. Muitos defeitos, alguns passíveis de correção, mas qualidades indescritíveis (pelo menos eu entendo assim). Tinha um coração que não cabia no peito, tanto carinho e fidelidade aos amigos e às pessoas próximas. E era um trabalhador nato. Levantava cedo (4 da manhã) todos os dias. 
Sofreu com um mal que assola muitas famílias, mas jamais deixou faltar para a gente a orientação, o apontamento para o caminho correto visando evitar erros que ele cometia. O melhor carpinteiro, o melhor pedreiro... o melhor violeiro que conheci. 
Em conseqüência da vida que teve, o coração parou aos 58 anos, isso em 1998. Foi a partir desse ano que passei a lembrar de tantas coisas boas dele, ou que presenciei em suas realizações em prol das pessoas. Embora pese alguns defeitos se sobressaírem em momentos importantes da minha vida, não consigo imaginar meu pai pelos erros, mas pelas coisas boas. 
No dia 6 de janeiro ele teria completado 73 anos. Exatamente! No dia dos “Santos Reis”. Talvez por isso tenha se tornado violeiro, e como disse, o melhor que conheci.
Para mim é um dia muito especial. Lembrar das vezes em que ele chagava em casa (quando trabalhava na cidade), e o final do dia ganhava um tom diferente. Eu (que meus irmãos chamavam de puxa-saco) limpava a cuia e passava para ele preparar o chimarrão, seu costume desde infância. Muitas vezes afinava e abraçava a viola, intercalava uma cuia de mate com uma música do Tião Carreiro, Tonico e Tinoco, Lourenço e Lourival ou qualquer outra dupla caipira das boas. Me fazia sentir próximo do céu! Era o paraíso.
O “Velho Francisco” partiu (penso que muito cedo), mas deixou muitos momentos bons para minha lembrança. No dia dos “Santos Reis” sinto a presença dele do início ao final da jornada. É comum, para mim, ouvir muita música caipira nesse dia, especialmente Pena Branca e Xavantinho, Torrinha e Canhotinho, Palmeira e Biá e outras duplas que cantam músicas de reis. 
Como disse, não posso dizer que meu pai era um sujeito todo correto, mas foi um sujeito que soube viver, do seu jeito, mas viveu bem. Mesmo no auge dos problemas causados pelo mal que assola muitas famílias, contava com o carinho e compreensão da minha mãe. Ela sempre acabava dizendo que a gente (filhos) devia respeito e obediência ao pai. E ele, sábio educado pela vida, dizia que santidade não está nos santos que nos apresentam na igreja, mas no ventre que nos gerou. “Quer orar para Deus de verdade? Respeita, honra e ama a sua mãe. Ela é a sua santa!”. Essa lição foi a principal de todas. 
Sou grato por ter tido, mais uma vez, a oportunidade de assistir a celebração de “Santos Reis” no domingo, exatamente no dia em que ele comemoraria seu nascimento. Foi magnífico. Aos violeiros de Serra Alta, Grupo Raiz Sertaneja, minha gratidão pelo momento lindo. 
Aos meus irmãos, peço sempre que lembrem do meu velho pai pelas coisas boas que nos ensinou e pelo carinho, afeto e amizade com que tratava as pessoas a sua volta. Ainda posso ouvi-lo tocando e cantando alto na varanda da casa. Valeu Pai...e que nesse ano eu possa seguir melhor os teus bons conselhos!
 
Crédito: Luzardo Chaves

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