4 de mai. de 2011

COLUNISTA MOACIR PEREIRA COMENTA SOBRE "PSD"

PSD: salada mista

Gilberto Kassab, o prefeito de São Paulo que fundou o Partido Social Democrático, afirmou, em Florianópolis, que o PSD será um partido independente. Mas já tem selado um acordo com o Partido Socialista Brasileiro, o PSB do governador Eduardo Campos, para disputar as eleições municipais. Quer tempo dos socialistas na TV para enfrentar os adversários na campanha. Na prática, já nasce mais próximo do governo Dilma Rousseff do que o PSDB de Alckmin, Serra e Aécio.

Raimundo Colombo, o governador catarinense que assumiu o processo de criação do PSD em Santa Catarina, emitiu nota enfatizando que deseja um novo partido identificado com a população. Na realidade, despede-se do DEM e adere ao PSD por absoluta falta de alternativa partidária. Seu grupo, liderado por Jorge Bornhausen, foi derrotado na convenção nacional do DEM e perdeu as condições de sobrevivência política dentro da legenda liberal.

O PSD está nascendo no Estado em circunstâncias curiosas. Primeiro, durante uma reunião no apartamento do deputado Gelson Merísio, cercada por um inexplicável mistério. Deu a impressão que no apartamento 1.109 do Residencial Country Club estava ocorrendo um encontro maçônico. Seus líderes evitaram contato com a imprensa, a começar pelo próprio governador. A falta de transparência deixou a impressão de uma saída envergonhada. O encontro com Gilberto Kassab, aliás, estava mais para velório (pelo anúncio da morte do DEM) do que para celebração com champanha (pelo nascimento da nova legenda).

A “nota” de Raimundo Colombo, anunciando o novo projeto, está bem escrita. Como texto para a história, sem retoques. A rigor, contudo, nos fundamentos, revela-se divorciada da realidade. A redação teve as impressões digitais do publicitário Fábio Veiga.


REALIDADE

Kassab e Colombo falam muito em novo partido, novo Brasil, nova proposta. As razões que os motivaram a fundar o PSD, contudo, são outras. Kassab, porque está de olho no governo de São Paulo e precisa do espólio do PMDB de Orestes Quércia e aliança com outros partidos de esquerda. O DEM ficou exageradamente marcado como de direita e oposição ferrenha ao PT e a Dilma.

Colombo, porque não tinha futuro dentro do DEM de Agripino Maia, Ronaldo Caiado e Rodrigo Maia. Corria o risco de ser triturado nas próximas eleições municipais.

Os dois políticos lançam novas sementes para tentar colher no eleitorado de esquerda. Ao mesmo tempo, abrindo portas em Brasília. O PSD nasce coligado e irmão gêmeo do PSB de Eduardo Campos, aliado do PT, de Lula e de Dilma. Kassab e Colombo foram eleitos para fazer oposição ao governo federal; no novo partido, mudam o rumo.

As adesões aqui também têm muito pouco de “nova construção”, a partir de um contexto político-ideológico, e mais de interesses específicos e questões regionais.

Os deputados estaduais devem aderir em grupo. Eles pressionaram Colombo a antecipar a mudança. Sobre os federais também não há dúvidas. A maioria dos prefeitos seguirá na mesma direção. Ninguém quer ficar contra o sistema de poder no início de uma gestão com o governador tendo a caneta cheia de tinta.

Os que vierem de outras siglas terão mais motivação pessoal do que adesão ideológica. O deputado Kennedy Nunes(PP) já se incorporou por problemas em Joinville. O federal Jorginho Mello segue no mesmo caminho por rejeitar o comando de Leonel Pavan no PSDB.

O PMDB deverá ficar inteiro. No PP, a dúvida é Valmir Comin. Se ele for para o PSD, Clésio Salvaro fica no PSDB. Caso contrário, o prefeito de Criciúma pode se aliar a Colombo na nova sigla. E assim o quadro se repete em dezenas de municípios catarinenses.

Renovador? Sim, com Kátia Abreu e Guilherme Afif, do DEM; Omar Aziz, governador do Amazonas, do PMN; Otto Alencar, vice da Bahia, do PP. A Câmara Federal tem deputados oriundos de todos os partidos políticos. Do PRTB ao PC do B. Formando o grupo mais heterogêneo dentre todos os partidos políticos.

A rigor, a fundação do PSD não muda nada, em termos ideológicos e programáticos. Em Santa Catarina, troca-se apenas o nome do partido no poder.

Fonte: Diario Catarinense- edição de 03 de maio de 2011 - nº 9158

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